Jobs report EUA: Sólido, mas não em sobreaquecimento
Destaques:
Taxa de desemprego subindo (de 3,9 a 4,0%) mesmo com geração líquida de empregos robusta no establishment survey. (+272 mil vagas, vs expectativa de 180 mil). Antes da Pandemia, a economia precisava gerar em média 100 mil postos ao mês para garantir a estabilidade na taxa de desemprego. Recentemente, observamos indícios relevantes de elevação neste ritmo mínimo, quando olhamos a relação entre a geração líquida de empregos pelo Payroll com a dinâmica da taxa de desemprego. De fato, mesmo com números robustos na geração de empregos, não vemos a taxa de desemprego se reduzindo, senão o contrário.
Em estudo recente publicado no the budget lab da universidade de Yale, o economista Ernie Tedeschi investiga o tema, com interessantes conclusões. Na investigação das possíveis causas para o fato de a taxa de desemprego não ter caído tanto mesmo com a impressionante geração de empregos dos últimos anos, o risco de a pesquisa populacional estar subestimando o crescimento da força de trabalho ganha destaque. Esta leitura vai ao encontro do forte fluxo imigratório para a economia americana nestes últimos anos. Neste sentido, o desemprego oficialmente calculado não foi menor no passado pois o denominador da taxa (Desempregados/Força de Trabalho) estava subestimado. Isto quer dizer, também, que o ritmo de geração de empregos para manter a taxa de desemprego estável deve ser materialmente maior do que a média pré pandemia, considerando um aumento da força de trabalho superior ao estimado. No estudo, a estimativa do economista foi de cerca de 300 mil empregos. A leitura dos dados de trabalho este mês vai ao encontro destes números.
“Ernie Tedeschi: Is the U.S. Labor Market Cooler Than It Looks?”
*Analisando estas informações, sugerimos que se a geração líquida desacelerar há relevante risco de o FED virar a mão rápido. Dito de outra forma, se o ritmo de criação de vagas desacelerar mais, maior tende a ser o impacto sobre a taxa de desemprego, com implicações para o FED.*
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VISÃO DO FED
Entendemos que a visão de que o FED precisa de dados de emprego fracos para a flexibilização da política monetária nos parece incorreta. Payrolls relativamente elevados, per se, não são impeditivos para o ciclo de cortes do FED começar, particularmente na ausência de pressões inflacionárias. E relativamente à inflação, mesmo com o average hourly earnings crescendo mais do que o esperado no mês (+0,4% no mês vs 0,3% esperado), observamos crescimento de 4,1% ano a ano. Considerando o crescimento de 2,3% na produtividade e uma meta de inflação de 2,0%, até 4,3% de crescimento ao ano seria tolerável..
A função de reação do FED, especialmente depois do último FOMC, é claramente assimétrica : a barra para subir é muito alta, ao passo que a resposta a dados mais fracos deve ser enfática.
Demais, relativamente ao último SEP (boletim trimestral de projeções do banco central americano), não há discrepante distância na evolução de cenário de tal sorte justificar remoção de quaisquer cortes de juros este ano, como expresso na curva atualmente.
Em março, o FED projetava core PCE em 2,6% neste ano. Em 12 meses até abril, estávamos em 2,8%. Do ponto de vista do emprego, a taxa esperada ao final do ano pelo FED, de 4.0%, é justamente aquela verificada no relatório de emprego de hoje (07/06/2024). Porém, lá a mediana das expectativas dos membros do board para os juros incorporava 3 cortes de 0,25 no curso deste ano.