Hoje pela manhã, o IBGE divulgou a leitura para o IPCA referente ao mês de julho. Na passagem do mês, a inflação ficou 0,38%, ligeiramente acima das expectativas, de 0,35%.
Fonte: IBGE, Skopos
Os dados revelaram aceleração na passagem do mês, após leitura bastante benigna em junho, em que a inflação ficou a 0,21%. Na ponta enxergamos importantes contribuições de alta derivadas de fatores pontuais, que não necessariamente apontam para grandes preocupações à frente. Em destaque, observamos importante surpresa altista para os serviços, em alta de 0,75%. Em serviços, é notável a contribuição de passagens aéreas (+19,4% no mês), bem como de seguros automotivos (4,4%). O item de passagem aéreas é de conhecida volatilidade e junho é um mês de sazonalidade bem forte, em função das férias escolares. Já o seguro automotivo pressionado dialoga com as repercussões dos eventos climáticos do Rio Grande do Sul, refletindo esforço de recomposição após os custos associados ao aumento da sinistralidade. Juntos, ambos os itens contribuíram com 0,14 p.p sobre o índice cheio.
De outro lado, os bens industriais anotaram alta de 0,33%, consideravelmente acima de nossas expectativas (0,12%). Para além do impacto de um etanol mais forte, a força na margem ilustra maior repasse cambial do que o antecipado, fato que vai ao encontro de uma economia mais robusta, com gastos de consumo tracionados por positiva dinâmica salarial.
A dinâmica dos preços administrados também foi decisiva para a aceleração da inflação na ponta, muito em função dos reajustes nos preços de combustíveis recém anunciados pela Petrobrás. Nesta leitura, os administrados subiram 1,08%, com alta de 3,15% na gasolina e 5,9% no etanol.
O IPCA de junho também trouxe algumas surpresas positivas. Os preços de alimentação ilustraram devolução acima do esperado, com queda de 1,5% na passagem do mês, puxada pelos alimentos in natura. O movimento reflete impacto mais brando dos eventos climáticos e sugere deflação mais pronunciada do que o esperado, contribuindo para redução de sua contribuição inflacionária neste ano. No mesmo sentido, a difusão (porcentagem de itens da cesta cheia do IPCA em alta) ficou em 46,95%, de 52,25% em julho.
Olhando a média móvel de 3 meses para os grupos do IPCA, já anualizando e extirpando os efeitos sazonais, a leitura também é menos construtiva para a inflação. Os tão observados serviços subjacentes apontaram reaceleração na margem, subindo 5,83% (de 4,49%). A desinflação, apesar de em curso (o número a janeiro rodava a 6,2%), perde tração, ainda que com decisiva contribuição dos referidos seguros de veículos. Já a média dos cinco núcleos acompanhadas pelo BCB foi a 0,43%, de 0,23% em junho. Na média móvel anualizada e dessazonalizada, ganhou repentina tração, indo de 3,5% a 4,7%.
Fonte: BCB, Skopos
Em nossa leitura, o qualitativo da inflação de julho foi inegavelmente pior. Os serviços anotaram forte alta, ainda que pontualmente pressionados por elementos conjunturais. Os industriais ilustraram repasse mais forte e os itens mais cíclicos e sensíveis à atividade e juros, com os núcleos e os serviços subjacentes, ganharam fôlego. O alento veio de alimentação, que deve seguir em deflação nas leituras seguintes. Ainda assim, enxergamos desaceleração para a inflação nos próximos meses, com taxas mais brandas em serviços e nos núcleos, passados os impactos nas passagens aéreas e seguros. Os administrados também devem perder força, com o impacto maior dos reajustes em combustíveis já se materializando largamente neste mês. Projetamos IPCA a 4,1% este ano e 3,6% em 2025.
Fonte: BCB, Skopos