Pela manhã, foram divulgados os dados relativos ao mercado de trabalho americano durante o mês de agosto. A leitura, de usual importância à política monetária, ganha ainda mais relevância dado o pivot do FED em favor da atividade. Em agosto, a economia americana abriu 142 mil vagas, consideravelmente abaixo das expectativas (165 mil) e com importante revisão de baixa nos números dos dois meses anteriores (-86 mil vagas). Do lado do desemprego, o arredondamento revela ligeira devolução após a importante alta de julho. Com efeito, o desemprego havia saído de 4,1% em junho a 4,3% em julho, cedendo a 4,2% nesta leitura. Na prática, contudo, notamos estabilidade na passagem do mês: 4,25% no mês anterior a 4,22% agora em agosto.
Fonte: BLS, Skopos
Olhando para a tendência de curto prazo, a partir da média móvel de 3 meses dos números de geração líquida, a situação se revela desafiadora. Em agosto, o ritmo de expansão cedeu a low do pós-pandemia, em apenas 116 mil vagas (de 141 mil em julho). O mesmo vale para a dinâmica do setor privado, que nesta leitura ficou abaixo das 100 mil vagas (94 mil). No mesmo sentido, revelando a abrangência da desaceleração, as médias móveis de 6 e de 12 meses também renovaram as mínimas do ciclo. Em perspectiva, é notório o movimento: há um ano, o mercado gerava 211 mil vagas na média trimestral.
Investigando a dinâmica dos salários na ponta notamos algum repique em agosto, com alta de 0,4% no mês e 3,8% anual, ainda que suportada por maior número de horas trabalhadas. Em conjunto, os dados de salários não oferecem grande preocupação. Mesmo o avanço do mês, a 3,8% anuais, é menor do que o consistente com a meta de 2,0% dado o avanço da produtividade. Nesta semana o dado revisto para o segundo trimestre ilustrou expansão de 2,7% nesta métrica.
Fonte: BLS, Skopos
No último mês, em Jackson Hole, Powell consolidou o pivot do FED e tornou todas as atenções à evolução do mercado de trabalho. Em particular, o chair afirmou sem rodeios que a autoridade faria o necessário para suportar um mercado de trabalho forte, especialmente sob o pano de fundo de inflação controlada. Neste ambiente, a dinâmica da taxa de desemprego tem redobrada importância. Na passagem do mês de fato houve estabilidade no desemprego, mas os detalhes não foram positivos. Cálculos da bloomberg sugeriam que 3 dos cerca de 20 bps de alta na taxa para julho dialogavam com efeitos pontuais do furacão Beryl, afetando principalmente o estado do Texas. Neste contexto, a queda de 3 bps no desemprego deste mês ilustra a devolução deste efeito extraordinário. Mas os mesmos cálculos apontavam importante contribuição dos trabalhadores desligados de forma temporária, que em julho responderam por cerca de 12 bps de alta sobre o total. Agora em agosto, mesmo com este número basicamente devolvendo a alta de julho, o desemprego não cedeu proporcionalmente.
Prospectivamente, não pode ser descartado o risco de nova rodadas de alta no desemprego, considerando a evolução do ritmo de geração de vagas vis-à-vis o “breakeven” necessário à estabilidade do desemprego. Como temos escrito aqui, o crescimento da imigração impulsiona a expansão da força de trabalho, que ao crescer em ritmo mais forte exige maior dinamismo na abertura de vagas para absorver a expansão no número de trabalhadores.
Em linhas gerais é nítida e consistente a perda de tração no mercado de trabalho, que saiu de uma situação de sobreaquecimento para algo mais próximo da normalidade. Preocupa, contudo, o ritmo de normalização, elevando os riscos de um desfecho recessivo. Não estamos na iminência desta ocorrência, mas a evolução demanda grande atenção. A perda de fôlego no ritmo de geração de vagas, num quadro em que o ritmo médio necessário à estabilidade da taxa de desemprego é maior, sugere upside para a taxa de desemprego ainda neste ano. Demais, outros dados de mercado de trabalho piscam amarelo. Nesta semana o relatório JOLTS trouxe importante frustração na abertura de vagas, ao menor nível desde 2021. No mesmo sentido, a taxa de admissões roda em níveis compatíveis com o pré-pandemia, ao passo que a taxa de demissões voluntárias roda até abaixo, significativamente inferior aos picos recentes. Mesmo a relação entre o número de vagas abertas e o estoque de desempregados cede a 1,07, em níveis próximos ao observado no mercado de trabalho de 2018. A própria taxa de desemprego situa-se cerca de 80 bps acima do observado antes da pandemia.
Em conjunto, os dados ilustram um mercado de trabalho mais frouxo do que observado antes da pandemia, fato reconhecido por Powell em Jackson Hole. No entanto, o juro reside em níveis bastante restritivos, muito acima do observado em 2019. Neste quadro, é imperativo ajustar celeremente o nível de restrição, buscando os níveis neutros (cerca de 3,0% nominal). O mercado de trabalho historicamente vira rápido e aguardar para sinais efetivamente vermelhos significa agir tarde demais. Entendíamos pertinente o começo do ciclo de cortes já em julho. O FED perdeu uma boa oportunidade. Ainda assim, a ata do FOMC trouxe um debate sobre o corte naquela reunião, contando com o apoio de alguns dos membros do board. Em Jackson Hole, Powell foi enfático no suporte ao mercado de trabalho. A autoridade diz estar “data dependent” e não “data point depedent”. Nesse sentido, o conjunto da obra coloca que um corte de 50 bps em setembro deve ser discutido seriamente.