PCE e Renda Pessoal – Setembro: Consumo resiliente e desinflação mais lenta
Escrito por: Christian Thorgaard

Hoje pela manhã foram divulgados os dados relativos aos dados de renda e consumo pessoal, incluindo o índice de preços de referência para o FED na gestão dos juros (PCE). Na leitura de setembro, houve avanço de 0,18% no índice cheio (de 0,11% em agosto) e 0,25% no núcleo (de 0,16%), ambos em linha com as expectativas. Do ponto de vista de renda e consumo os dados de hoje trouxeram nova leitura robusta para a dinâmica da atividade. Os gastos com consumo das famílias americanas tiveram avanço de 0,5% (de 0,3%), ao passo que a renda disponível avançou (0,3%, de 0,2%). Mesmo descontada a inflação foi notável a alta no consumo (0,4%, de 0,2%), ainda que nem tanto para a renda disponível (0,1% novamente).

No plano da inflação a aceleração observada na ponta já era amplamente esperada, como antecipado pelos dados de CPI. O avanço do núcleo dialoga com itens de saúde e transportes mais do que compensando a desaceleração na inflação de moradia, em dinâmica também antecipada pelo CPI de setembro. Com efeito, saúde e transportes adicionaram cerca de metade (0,12 p.p.) da variação mensal registrada pelo núcleo. Nesse contexto, o chamado supercore (núcleo ex-moradia) anotou alta de 0,2%, ganhando ritmo ante os dois meses anteriores (0,1%). Para esta dinâmica contribuíram também os preços de bens, que seguiram em queda, mas em ritmo cadente (-0,1%, de -0,2% em agosto). A inflação de moradia desacelerou a 0,3% (de 0,5%), insuficiente para contra restar o impacto dos demais itens na aceleração da inflação de serviços (0,3%, de 0,2%).

Fonte: BEA, Skopos

Apesar de maior calor na margem, a trajetória dos preços segue ilustrando um processo mais amplo de desinflação, ainda que com alguma estabilização. Com efeito, investigando as médias móveis de 3 meses anualizadas, várias métricas continuam rodando em torno da meta de 2,0% perseguida pelo FED. Ao cabo do mês, o índice cheio rodou a 1,8% (de 1,6%), com altas de 2,3% no núcleo (de 2,2%) e 1,8% no supercore (de 1,7%). Desde maio-junho temos estas métricas rodando em torno da meta. Durante este período de fato tivemos números bem benignos nas leituras mensais, que se estabilizam agora em níveis que nos parecem mais compatíveis com a dinâmica geral da atividade. Difícil, salvo grande contribuição de desinflação em moradia ver o núcleo da inflação rodando abaixo de 2,0% com uma economia crescendo a cerca de 3,0% anualizados, como neste terceiro trimestre (2,8%). Á frente, o núcleo deve rodar próximo de 2,7%-2,8% até o final do ano, um pouco acima das projeções do FOMC de setembro (2,6%).

Fonte: BEA, Skopos

Um dos motivos do bom dinamismo da economia, o consumo, teve nova e robusta alta em setembro (0,5% nominal, 0,4% real). Podemos ter tido um impacto pontual de compras preventivas face a chegada do furacão Helene, mas fato é que o consumo veio forte. É curioso, contudo, que o ritmo de expansão do consumo tem superado de forma consistente o avanço da renda disponível (0,3% nominal, 0,1% real), se traduzindo em consumo das economias, bem capturado pela redução na taxa de poupança (4,6%, de 4,8%). Mesmo em termos da média móvel anualizada, vemos uma renda real basicamente estagnada (1,1%) com forte avanço do consumo, também descontada a inflação (3,8%).

Fonte: BEA, Skopos

Em linhas gerais, apesar de números mais quentes no âmbito da inflação e atividade mais forte, como captado pelos gastos de consumo, não enxergamos grande mudança no plano de voo da política monetária. O consumo há de desacelerar dado o descompasso entre renda e gasto. O nível de poupança sugere, no entanto, que não precisa ser violenta esta desaceleração. Demais, várias métricas de salários têm indicado importante desaceleração, compatível também com a redução nas taxas de demissão voluntária (quits), que neste mês renovaram a low do ciclo. Hoje mesmo, o ECI (Employment Cost Index, preferido pelo FED), trouxe mais uma desaceleração no avanço dos salários durante o terceiro trimestre. Na passagem do trimestre, houve alta de 0,8% (3,2% anualizada), menor nível desde o segundo trimestre de 2021. São níveis de expansão que não oferecem risco inflacionário, dada a meta de 2% para a inflação e o avanço da produtividade, estimado em 2,5% anualizado durante o segundo trimestre deste ano. Enxergamos a economia americana navegando muito bem o processo de soft landing. O mercado de trabalho arrefece, salários, que já não oferecem pressão, devem seguir em rota de moderação; e a inflação se estabiliza em níveis próximos das metas. Em suporte a este ambiente, tendo vista o mandato duplo e a distância do juro corrente ao neutro, entendemos que o FED seguirá com mais dois cortes de 25 bps.

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