Hoje pela manhã foram divulgados os dados para o mercado de trabalho americano referente ao mês de outubro. Vale lembrar que os números do mês estariam sujeitos a importantes impactos oriundos dos furacões, bem como de greve na empresa Boeing, o que traria grande ruído para a leitura final. Até por isso, era grande a dispersão das projeções para o ritmo de geração de vagas, com mediana em 100 mil empregos. Ao cabo, o número veio consideravelmente abaixo das expectativas, revelando alta de apenas 12 mil empregos no mês. Houve também importante revisão de baixa para os dois meses anteriores, de -112 mil. A taxa de desemprego, arredondada, ficou estável em 4,1% (4,14% de 4,05%), sem relevante impacto dos eventos climáticos.
Fonte: BLS, Skopos
É fato que a ocorrência dos furacões exerceu impacto nos números de geração de vagas ainda que o BLS não tenha conseguido precisar uma estimativa de impacto. Mas mesmo assumindo um efeito negativo de 100-110 mil, como sugeriam as análises preliminares, teríamos uma leitura mais fraca (112-122 mil). O setor privado teve redução de 28 mil vagas, com perdas importantes na manufatura (-46 mil), impactada pela greve da boeing (cerca de -44 mil). Houve também forte queda nos serviços de ajuda temporária (-49 mil), no que pode ser associado aos impactos da questão climática. Mas vale lembrar que este grupo já vinha ilustrado fraqueza por boa parte dos últimos 12 meses, caindo em 10 das últimas 12 leituras. Nesse contexto, entendemos sim que parte importante da fraqueza, que explica o headline somente a 12 mil dialoga com estas questões pontuais. Ainda assim, não creditamos tudo a estes eventos. É uma leitura marcadamente mais soft do que setembro, que parece ter sido atipicamente robusto.
Fonte: BLS, Skopos
Saindo da volatilidade do mês a mês, que tem sido grande nos dados de payrolls, com fortes revisões recentes, vale investigar o comportamento das médias móveis. Nesse sentido, em termos de tendência mais longa, a direção de viagem continua ilustrando arrefecimento, de níveis bastante robustos. Na média móvel de 12 meses foi renovada a low do ciclo, mas na de 6 meses houve estabilização, ao passo que na ponta houve nova piora em função do dado baixíssimo deste mês. A média móvel de 3 meses encerrou outubro a 104 mil, de 148 mil em setembro e 113 mil em agosto. Neste contexto nos parece claro que a tendência segue de arrefecimento, mas com alguma estabilização nas últimas leituras. A grande dúvida é se o nível em torno do qual a geração de estabiliza vai ser suficiente para evitar novas pernadas de alta na taxa de desemprego. Entendemos que não e vemos como provável gradual movimento ascendente até o final do ano, sem que signifique grande risco à trajetória da economia. Mas é de fato bastante ruidosa a informação que conseguimos colher na ponta com esta leitura.
Fonte: BLS, Skopos
Nos salários houve avanço de 0,4% no mês, vindo de 0,3%. Em termos anuais o ritmo de expansão foi a 4,0% ao ano (de 3,9%), níveis que pouco oferecem risco a inflação, particularmente dada a dinâmica recente da produtividade.
Fonte: BLS, Skopos
Em linhas gerais a recente dinâmica do emprego segue apontando para gradual arrefecimento. Dados da pesquisa JOLTS trazem menor abertura de vagas, níveis baixos de demissão voluntária e equilíbrio na relação entre vagas abertas e estoque de desempregados. Ainda assim, não enxergamos aumento no número de demissões e a taxa de desemprego continua em níveis historicamente baixos. Antes de setembro nos preocupávamos com o ritmo de normalização da taxa de desemprego, o que foi afastado com o retorno a casa dos 4,1% nas últimas leituras. Neste ambiente é marcadamente menor o risco de o desemprego superar os 4,5% ainda neste ano, ainda que enxerguemos chance importante de novas altas até o final do ano. O ritmo de geração parece estar se estabilizando, mas em nível que deve ser insuficiente para compensar a expansão da força de trabalho. Mesmo assim, enxergamos a economia em saudável evolução na direção de um soft landing. É importante ressaltar que não observamos risco de reaceleração sustentada da atividade ou da inflação. O emprego vem desacelerando, os salários estão bem-comportados e as tendências apontam para continuidade neste movimento de descompressão. Os componentes de emprego dos ISM’s têm rodado abaixo do nível neutro em leituras recentes, ao passo que o diferencial de emprego do Conference Board (percepção de emprego escasso vs emprego abundante) também sinalizam piora. De toda forma, o consumo segue bastante robusto e a revisão altista na taxa de poupança das famílias aponta para ritmo apenas gradual de desaceleração adiante.
Decisivo para as chances que atribuímos ao processo de soft landing é o firme apoio do FED. Como o chairman Powell colocou no último FOMC, a hora de suportar o emprego é quando ele ainda está forte. O corte de 50 bps na última reunião foi firme sinal de compromisso com o amparo ao mandato de emprego. Em conjunto, os dados reforçam o plano de voo da autoridade monetária, tanto no pace esperado para os próximos dois cortes (25 bps), quanto pelo gradualismo na busca pelo juro neutro. Permanece, no entanto, o firme compromisso com o soft landing: qualquer piora adicional vai provocar ação enfática. Desta forma, o ambiente se revela propício para a narrativa de goldilocks.