IPCA Outubro: Números pressionados por alimentação e energia, mas qualitativo também pior
Escrito por: Christian Thorgaard

Hoje pela manhã o IBGE divulgou a leitura para o IPCA referente ao mês de outubro. Na passagem do mês, rodou a 0,56%, acima de nossas estimativas (0,5%), bem como do consenso (0,54%). Em 12 meses a inflação voltou a superar o teto da meta, acumulando 4,76%. Por fim, a média dos núcleos acompanhados pelo BC avançou 0,44% (de 0,22%), levando o acumulado em 12 meses para 4% (de 3,8%).

Fonte: IBGE, Skopos

Em outubro, a inflação voltou a acelerar na ponta, outra vez sob grande influência dos preços de alimentos e energia. Os preços de alimentos anotaram alta de 1,22% na passagem do mês, contando com forte alta nos preços das carnes (5,81%, de 2,97%). Os preços de proteínas têm figurado com destaque na dinâmica recente da inflação e devem continuar como forte vetor de pressão sobre os preços de alimentação nas próximas leituras. A virada no ciclo de bovinos enseja continuidade no movimento de alta nos preços de boi gordo e seu repasse para a carne bovina, puxando também as demais proteínas. Em energia, o avanço nesta leitura continuou robusto (4,74%, de 5,36%), refletindo os impactos da seca sobre o custo de energia e a situação dos reservatórios. Com efeito, em outubro esteve vigente o mais restritivo nível do regime de bandeiras: vermelha 2, ante vermelha 1 em setembro e verde ainda em agosto. Em suma, os preços de alimentação e energia, juntos, contribuíram com 0,39 p.p sobre os 0,56% registrados pelo IPCA em outubro, explicando quase 70% da variação. Vale dizer, contudo, que houve alguma piora também nos demais grupos da cesta.

Os serviços e, particularmente, os serviços subjacentes (mais sensíveis a atividade e política monetária) anotaram aceleração na passagem do mês. Em serviços, a alta foi de 0,35% (de 0,15%), mesmo com descompressão nos preços das passagens aéreas (-11,5%, de 4,64% em setembro). A aceleração pode ser entendida pelo prisma do núcleo de serviços subjacentes, que saíram de 0,02% a 0,76% em outubro. Aqui, há alguns elementos de “payback”, bem como influência da dinâmica de alimentação sendo repassada para a alimentação fora de casa. Com efeito, em setembro, a leitura atipicamente baixa dos subjacentes havia sido produto de descontos fortes em cinema e de nova e surpreendente deflação nos preços de seguros automotivos. Neste mês, ambos os preços voltaram de forma importante: 7,54% nos preços de cinema (de -8,75%) e 3,72% em seguros (de -2,42%). Já os preços de alimentação fora de casa registraram o ritmo mais forte em 18 meses, com alta de 0,65% na ponta (de 0,34%). Neste contexto, parte da piora em subjacentes de fato dialoga com a volta de preços que cederam pontualmente em setembro, mas não tudo.

Do lado mais positivo na composição qualitativa, não assistimos a importante aceleração na inflação dos serviços intensivos em mão de obra, importante para entender a interação entre o aquecimento do mercado de trabalho e dos salários e a inflação. De fato, em outubro este grupo avançou 0,32%, vindo de 0,33% e 0,28% nos dois meses anteriores. Continuamos sem assistir a aceleração deste grupo a despeito de novas mínimas na taxa de desemprego. Demais, os salários começam a desacelerar nas leituras mais recentes, o que pode evitar piora material deste grupo e contribuir para a desinflação no seio de serviços, especialmente com esperada desaceleração na demanda agregada.

No lado dos preços industriais continuamos assistindo um repasse em linha com o comportamento histórico, algo bastante positivo dada a conjuntura de demanda aquecida e os riscos de desaceleração adiante. Ainda assim, a deterioração da taxa de câmbio nos últimos meses e o aumento percebido nos índices de preços do atacado se traduzem em maior inflação neste grupo. Em outubro, os preços avançaram 0,26%, ante 0,15% ainda em setembro.

Na média móvel de 3 meses, já ajustada pela sazonalidade e anualizada, vemos aceleração nos serviços subjacentes, de 3,95% a 4,5%. Esta métrica deve ainda ilustrar algum ganho de tração, especialmente quando sair da amostra o baixo número de agosto. De outro lado, os serviços intensivos em trabalho seguiram rodando em nível comportado, a 3,78% (de 3,74%). A trajetória destes preços, que vinham em consistente desaceleração, começa a dar indícios de estabilização. Não pode ser totalmente descartado o risco de alguma reaceleração adiante, pelo quadro geral do emprego, mas o fato de isto não ter acontecido até aqui nos deixa ainda seguros quanto aos próximos passos.

Fonte: IBGE, Skopos

De forma geral, o IPCA de outubro revela números mais fortes, parte influenciados por fatores que serão revertidos, mas parte por elementos que ainda ensejam riscos para frente. A pressão em energia elétrica deve sair de cena, com a entrada em vigor da bandeira amarela para novembro e possivelmente verde em dezembro. De outro lado, as carnes vão seguir contribuindo de forma decisiva para a inflação de alimentos, que será adicionalmente tracionada por sazonalidade forte de fim de ano. No mesmo sentido, os serviços e os subjacentes vão permanecer mais resilientes até o final do ano, também impulsionados por sazonalidade mais forte. De outro lado, a dinâmica dos serviços intensivos é um importante sinal, que ainda não revela deterioração adicional. Acompanhar esse núcleo será fundamental para acessar as perspectivas da inflação de serviços em 2025, especialmente no que concerne ao risco de importante aceleração. Em suma, os números mais quentes a curto prazo e a dinâmica dos preços de alimentação se traduziram em marginal aumento em nossas projeções, agora em 4,5% este ano (de 4,4%) e 3,75% em 2025 (de 3,7%).

Fonte: IBGE, Skopos

Confira nossas outras publicações
Economia
Visão Skopos – Carta Macro Novembro
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
CPI de Outubro: Desinflação ruidosa não altera plano de voo
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
IPCA Outubro: Números pressionados por alimentação e energia, mas qualitativo também pior
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
Visão Skopos – Carta Macro Outubro
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
EUA – Payrolls: Leitura ruidosa não afeta o cenário de soft landing
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
PCE e Renda Pessoal – Setembro: Consumo resiliente e desinflação mais lenta
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
EUA: Economia segue bastante dinâmica, tracionada pelos gastos de consumo
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
CPI de Setembro: Repique pontual não interrompe tendência positiva
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
IPCA Setembro: Leitura benigna nos núcleos e inflação subjacente
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
EUA – Payrolls: Números fortes elevam a chance de um soft landing
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
Ata do Copom: Tom duro aumenta as chances de um ciclo expressivo
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
CPI de Agosto: pressão pontual não altera trajetória benigna
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
IPCA Agosto: qualitativo construtivo, especialmente nos núcleos
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
EUA – Payrolls: Sinais de fraqueza prescrevem ação enfática
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
Brasil – PIB 2T24 : Surpresa altista revela economia robusta, com qualitativo melhor
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
CPI de Julho: Inflação em linha desloca o foco ao emprego
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
IPCA Julho: Reaceleração pontual puxada por fatores pontuais
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
Ata do Copom: Tentando comprar tempo
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
EUA – Payrolls: Mercado de Trabalho piscando amarelo
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
PCE Junho: Desinflação relevante, com trimestre muito positivo
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
EUA: Com economia saudável, soft landing segue no radar
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
CPI de Junho: Sequência de melhoras chancela cortes em setembro
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
IPCA Junho : Leitura benigna deve contribuir para dissipação de prêmio
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
Payroll EUA: Emprego sólido, mas cautela adverte ajuste nos juros
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
PCE Maio: Mais uma leitura positiva na inflação americana
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
Ata do Copom: Juros “higher for longer”, mas barra para subir é ainda mais alta
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
COPOM: Tom duro e manutenção unânime, mas barra alta para novas altas
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
FOMC de Junho: Projeções duras mas abertura para mais cortes
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
CPI de Maio: Tendência de melhora aumenta as chances de cortes em setembro
Análise macro Christian Thorgaard
Economia
Jobs report EUA: Sólido, mas não em sobreaquecimento
Análise macro Christian Thorgaard
Empresas
Suzano e IP: Uma reação exagerada
Análise micro Pedro Nogueira
Economia
Mercado de Crédito Privado e seu Reflexo no Brasil
Análise macro Pietro Tortoreli
Economia
Peso dos salários e perspectivas para a inflação
Análise macro Equipe Skopos
Empresas
Grupo Mateus: Da Mercearia à Liderança Regional
Análise micro Pedro Nogueira
Empresas
Vulcabras: Seguindo a passos firmes
Análise micro Pedro Nogueira
Empresas
Klabin: Destrinchando o projeto Caetê
Análise micro Pedro Nogueira
Empresas
Oceanpact: Um oceano de oportunidades
Análise micro Pedro Nogueira
Empresas
A Estratégia da Iochpe Maxion na Indústria Automotiva
Análise micro Pedro Nogueira
Cartas Antigas
Cartas históricas
Pedro Cerize
Participe da Comunidade Skopos