Pela manhã de hoje conhecemos os dados relativos à inflação americana ao longo do mês de outubro. Em linhas gerais, os números vieram em linha com a dinâmica apontada em setembro, mas com qualitativo mais construtivo. Com efeito, durante a passagem do mês o CPI anotou alta de 0,2%, com 0,3% de alta no núcleo da inflação. Em ambos os casos a variação reproduziu o observado em setembro, situando-se dentro das estimativas de consenso.
Fonte: BLS, Skopos
Em termos de composição, a leitura deste mês revela um qualitativo um pouco mais benigno. O núcleo de serviços veio em alta de 0,3%, ante 0,4% na leitura de setembro, mesmo com aceleração na inflação de Shelter (0,38%, de 0,22%). Os dados para a inflação de moradia têm sido mais voláteis do que o usual e o movimento de desinflação tem se revelado mais lento. Ainda assim, o FED parece disposto a desconsiderar esta fonte de pressão, enxergando uma moderação contratada à diante. De outro lado, alguns itens que haviam pressionado de forma mais marcante a dinâmica de serviços entre agosto e setembro ilustraram alguma descompressão. Em destaque, os serviços de transportes anotaram alta de 0,4% (de 1,4% em setembro e 0,9% em agosto), com destaque para a estabilização nos preços de seguro automotivo (-0,1%), que vinham em quatro leituras de forte alta (média de 1,0% ao mês). A descompressão neste grupo ocorreu mesmo em meio a resiliência em passagens aéreas, em alta superior a 3% pelo terceiro mês consecutivo (3,2% agora, de 3,2% e 3,9%). Em nosso último relatório apontamos que algumas das pressões anotadas tinham caráter mais pontual, algo que parece se confirmar aqui nos dados de outubro. Para além dos seguros, os serviços médicos, que em setembro subiram ao ritmo mais forte desde março (0,7%), cederam a alta de 0,4% neste mês. Desta forma, o chamado supercore, a inflação de serviços ex-moradia, registrou desaceleração na passagem do mês, rodando a 0,3% (de 0,4%).
Ainda no núcleo, a dinâmica do preço de bens foi uma surpresa positiva. Em setembro este grupo interrompera 15 leituras consecutivas em deflação, com alta de 0,2%. A continuidade deste movimento era esperada, frustrada pela estabilidade nos preços registrada na passagem de outubro. Os preços de automóveis novos ficaram de lado, após alta de 0,2% em setembro, ao passo que usados aceleraram o ritmo a 2,7% (de 0,3%). Os preços de vestuário, de outro lado, surpreenderam com forte queda: outubro trouxe recuo de 1,5% nos preços, mais do que devolvendo a alta de 1,1% observada em setembro. Apesar da dinâmica mais positiva deste mês, ainda entendemos que há espaço para os preços de carros rodarem um pouco mais fortes neste final de ano. Há dúvida, contudo, se este movimento será suficiente para mais do que compensar a desinflação registrada nos demais bens industriais.
Em termos de tendência, gostamos de olhar a média móvel de 3 meses, anualizada. Ela nos oferece uma visão do ritmo da inflação recente em termos anuais, retirando a volatilidade do mês a mês. Quer dizer, ela ilustra onde ficaria a inflação anual, mantido o ritmo de evolução dos últimos três meses. Sob esta ótica, outubro traz números mais fortes do que o registrado no terceiro trimestre. Trata-se em larga medida de um reflexo da estabilização da inflação nas últimas duas leituras, vindo de números bastante fracos entre maio e julho. De fato, o índice cheio rodou a 2,5% (de 2,1%), com rodando núcleo rodando a 3,6% (de 3,1%). Já o supercore ficou em 4,2% (de 3,8% na leitura anterior).
Fonte: BLS, Skopos
Em nossa leitura as últimas duas rodadas de dados para a inflação vão ao encontro de nossas expectativas. Escrevemos neste espaço que os números seriam, no limite, menos positivos, mas sem alterar a trajetória mais ampla de desinflação. Outubro, como setembro, se enquadra bem nesta caracterização, mas qualitativamente enxergamos este mês como mais construtivo. A tendência de desinflação segue firme, ainda que não linear, como expresso no avanço da inflação na ponta e nas médias móveis de 3 meses. Não enxergamos, neste movimento, algum tipo de ressurgimento das pressões inflacionárias, senão uma normalização após leituras atipicamente baixas. É uma estabilização em níveis ligeiramente acima da meta, em linha com o dinamismo que continuamos a observar na atividade. A última milha da desinflação de fato deve ser mais complexa, mas ainda não enxergamos vetores que possam interromper de forma material o processo. Shelter segue carregando decisivo impacto sobre a dinâmica de preços, refletindo grande defasagem entre os aluguéis de mercado e os indicadores oficiais. De outro lado, o mercado de trabalho vem em tendência de arrefecimento, carregando moderação no ritmo de crescimento dos salários, algo que também afasta o risco de reaceleração perene da inflação. Há dúvidas no contexto dos bens, especialmente sob o espectro do ressurgimento de políticas comerciais protecionistas. Em nossa leitura esse é um tema a ser monitorado, mas a depender do recorte das tarifas enxergamos mais potencial de danos às margens dos agentes do que necessariamente grande pressão aos consumidores, particularmente se o movimento for acompanhado de desaceleração mais firme da atividade e mercado de trabalho.
De forma geral o report de outubro não enseja grandes mudanças para a política monetária. O núcleo da inflação roda a 3,3% em 12 meses, ante 3,8% ao cabo do primeiro trimestre e 4,0% há um ano. Powell, no FOMC da semana passada, reforçou a confiança na tendência de desinflação e reconheceu o caráter atribulado dos próximos passos. Ainda assim, a estratégia de buscar gradualmente os níveis neutros neste movimento de calibragem da política monetária, dado o comportamento da inflação e do emprego no último ano, segue firme. Continuamos enxergando mais um corte de 25 bps na reunião de dezembro. Uma pausa no ciclo exigiria piora importante da dinâmica de preços, com, no mínimo, estabilidade no emprego. Não nos parece o cenário base. Na verdade, vemos como provável outras rodadas de piora marginal no seio do mercado de trabalho.
Fonte: BLS, Skopos