Hoje pela manhã conhecemos os dados, da primeira prévia, para o PIB da economia americana no curso deste último terceiro trimestre. Na passagem do trimestre a economia americana cresceu 2,8%, em termos anualizados, praticamente dentro da expectativa mediana dos agentes, de 2,9%. O dado não anualizado, mais comum a nós no Brasil, revelou alta de 0,7%, em linha com o ritmo anotado no curso do segundo trimestre (0,74%).
Fonte: BEA, Skopos
A abertura dos dados revela continuidade de bom momento para a economia americana, contrastando com expectativas de desaceleração mais consistente ao longo deste ano. Os dados antecedentes, como as vendas do varejo e os gastos de consumo em base mensais, já sinalizavam o melhor momento. O consumo das famílias foi grande destaque no resultado trimestral, com alta de 0,9% em aceleração ante o segundo trimestre (0,7%). Os gastos com serviços perdem um pouco de tração (0,6%, de 0,7%), compensados por maior crescimento em bens (1,5%, de 0,7%).
Em linhas gerais, o consumo respondeu por 0,64 p.p dos 0,7% de expansão na ponta. Há de se destacar também a dinâmica do gasto do governo, com robusto avanço na leitura (1,2%, de 0,8%), especialmente puxados por forte avanço nos gastos com defesa (3,5%, de 1,6%). De outro lado, o investimento anota importante desaceleração (0,1%, de 2,0%), particularmente por efeito de nova contração nos investimentos residenciais (-1,3%, de -0,7%) e alguma desaceleração nos investimentos não residenciais (0,8%, de 1,0%). Nos investimentos residenciais é notável o impacto, desfasado, do ciclo de alta de juros e das elevadas taxas de hipoteca. No investimento não residencial, seguimos observando dinamismo nos investimentos em máquinas e equipamentos (2,7%, de 2,4%), atenuando o recuo nos gastos com estruturas (-1,0%, de estabilidade) e desaceleração em propriedade intelectual (0,1%, de 0,2%). O setor externo seguiu ilustrando expansão mais forte nas importações (2,7%, de 1,8%) do que nas exportações (2,2%, de 0,3%), reflexo da outperformance da economia americana vis-à-vis os pares.
Do ponto de vista de contribuição ao crescimento, consumo das famílias e do governo foram o grande destaque (+0,82 p.p), mais do que compensando o drag vindo das exportações líquidas e da formação de estoques (-0,14 p.p do setor externo e -0,04 p.p dos estoques). O avanço das importações e maior formação de estoques dialoga com o esforço precaucional face ao risco da greve nos portos e potencial guerra tarifária. O chamado núcleo que PIB, a demanda privada doméstica (que exclui as exportações, os estoques e o gasto público) seguiu bastante saudável, com alta de 0,78% (de 0,67%).
Fonte: BEA, Skopos
O que a leitura preliminar do PIB nos traz é uma economia ainda expandindo em ritmo bastante robusto, tracionada pelos gastos de consumo, que se beneficiam do avanço no processo de desinflação em meio à resiliência do emprego e da renda, sem contar o mercado de crédito. O elevado ponto de partida, o nível de renda, bem como o espaço em termos de poupança das famílias sinaliza para a continuidade de momento positivo neste próximo trimestre. Ainda assim, alguma desaceleração a diante é esperada, tendo em vista continuidade no processo de normalização no mercado de trabalho e arrefecimento no ritmo de expansão da renda e dos salários. O base case segue apontando para um pouso suave da economia americana, em que pese algum risco de virada no mercado de trabalho. Na margem, os últimos dados de atividade e renda, mercado de trabalho e o começo do ciclo de flexibilização de juros pelo FED aumentaram as chances de sucesso neste processo de aterrissagem. É bom lembrar que o PIB é um indicador “backward looking”; sua dinâmica prospectiva vai depender da evolução do emprego.
Fonte: BEA, Skopos