Peso dos salários e perspectivas para a inflação
No recente debate acerca da trajetória prospectiva para a inflação, bem como da gestão ótima de política monetária, nos chamou atenção um estudo propondo a reponderação do IPCA de modo a focar no peso dos salários.
Quer dizer, a reponderação propõe-se a focar no peso dos salários sobre a dinâmica da inflação, aumentando o peso relativo dos itens para os quais o custo com remuneração é mais relevante.
Este índice reponderado possui maior aderência com as medidas de inércia e desemprego, relativamente ao IPCA-ex passagens aéreas, os serviços intensivos em mão de obra e os serviços sensíveis à ociosidade.
Em função desta caraterística, bem como das perspectivas positivas sobre a evolução do emprego e dos salários, o estudo recomenda cautela para os próximos passos de política monetária. A leitura é de que os itens sensíveis aos salários estão rodando acima do IPCA cheio e devem continuar pressionados, sob um pano de fundo de emprego ainda resiliente.
Em nossa leitura, a construção do índice reponderado é oportuna, na medida em que oferece interessante recorte sobre a dinâmica da inflação, com o benefício de englobar o índice cheio. Outras medidas sensíveis ao hiato e salários, possuem peso diminuto da estrutura global do IPCA.
No entanto, nos indagamos quanto ao poder preditivo deste novo índice sobre os próximos passos da inflação cheia, efetivamente perseguida pelo Banco Central.
Em particular, será o índice reponderado mais útil à investigação da tendência da inflação cheia do que, digamos, a média dos núcleos?
Fonte: Banco Central do Brasil, Skopos
Motivados por esta provocação, construímos modelos de previsão para o IPCA, valendo-se ou de valores defasados para a média dos núcleos ou do índice reponderado.
Fonte: Banco Central do Brasil, Skopos
O gráfico abaixo ilustra o IPCA mensal efetivamente registrado, comparado às projeções de IPCA derivadas dos modelos de previsão baseados nos dados do índice reponderado e da média dos núcleos. Nestes modelos, além de uma constante, incluímos valores defasados do 3 ao 12 mês. O objetivo é duplo: investigar como os valores destes índices antecedem a inflação futura, bem como oferecer projeções de ambas as abordagens ao IPCA para os próximos 3 meses.
Em termos de acurácia, percebemos que ambos os modelos ilustram algum erro na projeção mensal. Trata-se de algo esperado, o mais interessante é avaliar a capacidade de antecipar a tendência da inflação. Nesse sentido, apenas 11% da variância do IPCA cheio é explicada pelos valores defasados do índice reponderado. De outro lado, a variância explicada vai a 14% quando utilizamos os valores para a média dos núcleos.
Prospectivamente, comparamos as projeções para os próximos meses, de ambos os modelos bem como da Skopos e do Focus.
Fonte: Banco Central do Brasil, Skopos
Em linhas gerais, as projeções derivadas do índice reponderado apontam para uma inflação significativamente superior à esperada por nós ou pelo mercado.
De outro lado, as projeções oriundas da média dos núcleos situam-se apenas marginalmente acima do esperado por nós e pela mediana dos agentes de mercado. Com efeito, o IPCA médio para os próximos meses fica em 0,39% segundo o modelo com os dados do índice alternativo; 0,25% segundo a média dos núcleos, 0,24% segundo o Focus e 0,2% segundo as projeções Skopos.